sábado, 3 de maio de 2008

Créu


Teresinha Chico Buarque/1977-1978
Para a peça Ópera do malandro, de Chico Buarque

O primeiro me chegou
Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia
Trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio
Me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada
Que tocou meu coração
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse não
O segundo me chegou
Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta
Me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada
Que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse não
O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração

"O meu amor tem um jeito manso que é só seuQue rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidosCom tantos segredos lindos e indecentesDepois brinca comigo, ri do meu umbigoE me crava os dentes..."
Lembro-me que em 1978, quando eu tinha apenas 14/15 anos, o frisson que essa letra provocou em nossos ouvidos,alias que toda obra "Òpera do Malandro" provocou .
Estavamos ainda no ensino médio e em tempos de muita censura,as letras eram impressionantemente sensuais e eróticas para os padroes da época, imaginem aos nossos ouvidos adolescentes.
As letras e as melodias são belissimas e para mim é a melhor peça musicada Brasileira mesmo gostando muito de Morte e vida Severina e outras tantas.
Talvez goste dela por que mexeu com meu imaginário adolescente...
Enquanto isso, um carro passa ao longe a todo volume com a deprimente e vazia "Creu" ...
Em tempos de mulher melancia,ando sentindo falta da poética do Chico.

A ópera do Malandro é ambientada em um bordel, ela conta a história de um malandro carioca, tentando sobreviver nos anos 40, final da ditadura de Getúlio Vargas – clima bem parecido com o de 1978. Como espetáculo musical, que é, a trama gira em torno de Max, ídolo dos bordéis.
O cenário é a Lapa das prostitutas e da pancadaria; o período – a década de 40 – com a Guerra assolando o mundo e mandando seus ecos para o Brasil. A Ópera do Malandro põe em cena a rivalidade entre o contrabandista Max Overseas e Fernandes de Duran, o dono dos prostíbulos da Lapa.Terezinha esta no meio de toda trama...
A peça "Ópera do malandro", escrita por Chico Buarque em 1978, é uma maravilhosa obra que fala sobre a figura imortal do Malandro, personagem que, hoje, vê graça na própria desgraça, pois, como diz o próprio "Epílogo do Epílogo" da peça, "O malandro/Tá na greta/Na sarjeta/Do país/E quem passa/Acha graça/Na desgraça/Do infeliz"As canções que compõem a peça são todas de Chico Buarque. Elas são as seguintes:
1. O Malandro
2. Viver do amor
3. Tango do Covil
4. Doze anos
5. Casamento dos pequenos burgueses
6. Terezinha
7. Sempre em frente
8. Homenagem ao malandro
9. Folhetim
10. Ai se eles me pegam agora
11. Se eu fosse teu patrão
12. O meu amor
13. Geni e o zepelim
14. Pedaço de mim
15. Ópera


Eu tenho esse vinilzão...
Olha a capa e a contra capa!

9 comentários:

Juliana Freitas disse...

CHICO BUARQUE!!!! \O/

Denise Machado disse...

Em meus dezesseis anos, na escola, tive o privilégio de atuar em uma montagem da ópera do Malandro e, acredite, fazia o Marx. Era maravilhoso, no final da peça, me descaracterizar perante o público e chocar a todos mostrando meu cabelão e minha feminilidade. Mas, inenarrável,era o que eu sentia por estar tão próxima do Chico. As músicas de hoje são deprimentes. Deprimentes.

Benó disse...

Olá. Também tenho esse vinilzão, como você lhe chama. Também era proibido aqui em Portugal, mas tive directamente do Brasil trazido por uns amigos.É óptimo ouvi-lo ainda.
Aceite o desafio que lhe proponho no meu Atelier.
Um abraço grande.

O Árabe disse...

Reaalmente fantástica, a Ópera do Malandro. Como, aliás, muitas outras obras do Chico... :)

Lari Bohnenberger disse...

Ai, não faz assim que eu vou chorar... estou em um estado de depressão profunda por não ter podido ir ver a apresentação da Ópera do Malandro pelo grupo Coro dos Contrários, aqui em Porto Alegre... foi bem em meio ao vendavel que se sucedeu por aqui no final de semana... buááááááá!!!

Anônimo disse...

Nana feliz dia das mães!=)

Paula Barros disse...

Que resgate. Um volta ao tempo. A capa do vinil não conhecia, é sempre bom conhecer, relembrar, viajar no tempo.
feliz dia das mães.
abraçõs

Tiago Cardoso disse...

Créu - sem comentarios!

Buarque - Uma incógnita maravilhosa.... queria poder ter assistido suas peças.

Nana, passa no Dó, Ré, Mi.... deixei um MEME pra vc.

VLW!!!

Tiago Cardoso disse...

Créu - sem comentarios!

Buarque - Uma incógnita maravilhosa.... queria poder ter assistido suas peças.

Nana, passa no Dó, Ré, Mi.... deixei um MEME pra vc.

VLW!!!