segunda-feira, 17 de março de 2008

DIVA

Hoje é um daqueles dias que certamente amanheço mais sensível, carente até.
Portanto não esperem de mim uma postagem sensacional com novidades ou qualquer pretenção de ser o "post". Hoje minhas palavras vem do coração e passam diretamente dos meus dedos para a tela fria e impessoal de um monitor.
Hoje é o dia "D", dela, a Diva da minha vida.
Sei que alguns nem terão disposição ou paciência para ler o que escreverei.
È um texto pessoal ,extenso e na blogosfera há aquela fatia de leitores impacientes com essse tipo de postagem ( sim, surpreendentemente temos leitores de blogs que não gostam de ler, um paradoxo? um enígma?)
Não importa.
Exatamente hoje fazem dois anos que minha mãe morreu de um ataque fulminante do coração.
Uma data impossível de esquecer. Impossível de não citar. Alias, tudo que falo,penso e faço tem muito dela, do que me ensinou.
Era minha única amiga intima, a única que confiei os meus segredos,todos eles.
Depois que ela se foi eu mudei muito, em todos os sentidos. Mudei meu foco em relação a morte e principalmente a visão da vida.
Confesso que ainda hoje me sinto surpresa com a repentina partida, é como um sonho . parece que foi ontem que tudo aconteceu...
Tenho a mesma sensação de saudades como aquela de antigamente, quando eu ainda era menina, quando em alguma emergência minha mãe precisava viajar e não podia levar-nos por não ser época de férias ou oneroso demais para levar tanta gente (somos 7 filhos). Ela ia visitar a vovó Ana no interior de Minas, na fazenda, onde não tinha como dar noticias diárias pois não havia sequer energia elétrica.
Quando abriram o caixão ,no terrivel momento do adeus, eu depositei um pequeno bilhete entre suas mãos , claro que sei que ela não iria ler,mesmo porque minhas convicções religiosas,filosóficas ,espirituais e esperanças não passam por esse caminho, mas o cartão que fiz tinha formato de coração e um desenho,também continha uma declaração de amor.
Ela amava receber meus cartões feito à mão. Eu lhe fiz muitos durante toda minha vida. Guardava todos numa caixinha.
Confeccionei o pequeno cartão com a ajuda do Tuty,Arthur meu filho de 8 anos, uma forma carinhosa e leve de dizer adeus.
Um rito de passagem.
A toquei.
Jamais imaginei tocar em alguém morto,muito menos a quem eu amava abraçar,contar -lhe uma estórias só para vê-la sorrir...
Causou-me estranhamento tocá-la dentro daquela caixa mórbida, aquele invólucro que a gente chama de corpo e que tanta gente hoje em dia dá um valor extremo e passa a vida toda se martirizando por ter uns centímetros a mais aqui e ali, um cabelo não adequado aos padroes de estética ou um nariz torto. Ali,não era mais a minha mãe. Não era mais aquela que me ensinou a amar a Deus, a ler e a gostar muito de ler,aquela que me ensinou a cozinhar, as coisas da vida, a ser mulher. Ali ,era somente um corpo frio, uma casca. Ela não estava mais lá.
Não é deprimente ou funesto pensar em morte, principalmente de alguém que era tão querida e cheia de vida .
Ela se foi, suas roseiras sentiram falta de seu carinho.
Diva cultivava flores e adquiriu qualidade de jardim.
Generosa.
Amável.
Acolhedora.
Quem a conhecia a amava muito.
Era linda,no melhor sentido da palavra.
Sinto muito a ausência.
Sua lembrança me traz nostalgia, saudades.
Lembrar-me dela jamais me deixa triste.
Esta chovendo agora.As infalíveis chuvas de Março, as ultimas chuvas de verão.
Foi numa tarde chuvosa de Março que ela se foi.
Assim como as chuvas que depois que se vão deixam o ar refrescante e limpo, a terra úmida ,fértil, minha mãe deixou tanta lembrança,tanto ensinamento, palavras sábias, que é só fechar os olhos e a memória me traz sua presença,seu riso fácil, o gosto de seus quitutes, o calor de seu abraço.
Sei que está descansando,de férias.

Se eu fosse compor uma música para expressar meu sentimento de hoje ,seria esta que esta ao fundo,a Cavatina,Uma linda canção que só por curiosidade cultural foi inserida na trilha sonora do filme (The Deer Hunter)- de Stanley Myers .maravilhosa, assim como era maravilhosa a minha querida mãe que se chamava Diva.
Então, como homenagem a lembrança de uma mulher que tinha o amor ao próximo como filosofia de vida, que amava musica e acordava cantando, deixo com vocês essa Cavatina, uma espécie de canção que nas antigas óperas era cantada pela diva ou "divo" no momento de sair dos bastidores . Também ofereço essa música aos meus irmãos,pai , sobrinhos e meus filhos que compartilham comigo da alegria de ter sido muito amados por ela, também aos amigos que a adotaram como mãe.
Eu ,sinceramente, espero que um dia, quando for minha vez de cantar minha "cavatina", quando for minha vez de sair de cena, no final de minha Òpera,deixe para todos que conviveram comigo, a mesma alegria ,a mesma lembrança suave e doce que ela nos deixou. Para Diva,que sempre foi um "Prima Dona" o meu aplauso!!

Cavatina do Latin cavare,sair,tirar Lat. cavare, sair, tirar
Na música é um pequeno solo que era cantado quando o "divo" ia sair dos bastidores.
È um trecho lírico-dramático unitemático, em regra mais curto do que a ária, o qual, na ópera antiga, servia quase sempre de conclusão a um recitativo e se podia eliminar sem prejuízo para a ópera.

CLIQUE PARA OUVIR
free music




Cavatina

Paul Potts

She was beautiful,
Beautiful to my eyes.
From the moment I saw her,
The sun filled the sky.
She was so so beautiful,
Beautiful just to hold.
In my dreams she was spring time
Winter was cold.
How could I tell her
What I so clearly could see
Though I longed for her
I never trusted me completely
So I never could be free.
Oh, but it was beautiful
Knowing now that she cared
I will always remember
Moments that we shared
Now it's all over
Still the feelings linger on
For my dream keeps returning
Now that she's gone.
For it was beautiful, beautiful,
Beautiful to be loved.


33 comentários:

Anônimo disse...

Princesa...
Uma pena não tê-la conhecido,foi falta de oportunidade... mas sabendo de voce, de como é, tenho a certeza que ela era linda.
Deixo com voce meu abraço apertadinho.
Seja feliz sempre querida flor do cerrado.

H.L.

Unknown disse...

Oi Mana!
muito lindo o texto!
Apesar da saudade imensa que sinto, esses dois anos me parecem 2 dias...
A presença dela é muito forte nas coisas que escuto, leio, vejo e voltam à lembrança.
Agradeço a Deus por ter me dado o consolo ante a tamanha perda, e a ela por ter me preparado para esses momentos e indicado a única Esperança pra esse mundo, que às vezes parece tão sem sentido.
Que ela sempre esteja viva em nossas memórias e nos lembremos sempre dos seus ensinamentos para podermos todos juntos nos reunir no grande dia da volta de Jesus.
bjão. Te amo

literatura disse...

Gostei do que li. Denota sentimentos e emo�es profundas.
Virei mais vezes ao seu espa�o, para conhece-la melhor.
Um abra�o de Lisboa

Charles Araújo disse...

Que lindo!!!
Um texto escrito com toda a emoção e saudade...eu nem penso que isso possa vir um dia a acontecer comigo.Fiquei emocionado xD

Vou te favoritar ^^

Charles Araújo disse...

Que lindo!!!
Um texto escrito com toda a emoção e saudade...eu nem penso que isso possa vir um dia a acontecer comigo.Fiquei emocionado xD

Vou te favoritar ^^

Rick Jo' disse...

tudo muito bonito muito legal
mais essa musica triste
queimou o blog
mais tipo eh legal
so nao curti a musica!

Anônimo disse...

Lindo, bem legal
Parabens
Ben

Rafael Almeida Teixeira disse...

Anjo você é filosofa?

Qual sua formação?

Favoritei seu outro blog.

Vi os link do Edson Marques aqui.

Gosto muito do trabalho dele.

Anônimo disse...

Oi Nana muito bom seu blog^^
Amei a img da maça vc me dá???
beijinhos...

Anônimo disse...

Nossa voce intende bastante desse pao
Pabaens

Anônimo disse...

oii aqui eh a ivi do gerador de improbabilidade infinata, vi seu comentário a respeito da promoção!!
tenta sim viu, mesmo se não ganhar valeu o tentar, certo?! hehehe

bjão moça, adorei seu blog

Anônimo disse...

Sei bem o que e perder alguém especial. A mãe é a única pessoa no mundo que não pode ser substituída. Pra mim, lembrar dos momentos felizes juntas (eu e minha mãe) é o mellhor remédio para seguir em frente. Belas palavras, me fizeram lembrar da minha infância. E bela homenagem. Estava lendo e ouvindo ao som de Radiohead: No Surprises'. Realmente fiquei emocionada.

Anônimo disse...

se quiser visitar meu espaço:
http://digaoquequiser.blogspot.com

Beijos

Samara disse...

Aí..ler esse texto deixa a gente com aquela dor no coração...fico pensando: "poxa, eu aindo tenho minha mãe aqui do meu lado..tenho que aproveitar melhor".
Eu não consigo nem imaginar a falta que deve fazer uma mãe..por isso não posso dizer que te entendo perfeitamente...eu apenas tenho uma noção.
Achei lindo você lembrar dela e de todos momentos bons...por que por mais que a falta seja grande esses momentos nunca morrem em nossa memoria...e isso deve ser um motivo de alegria

young vapire luke lestat disse...

Nossa!!!!11 tinha um tempo que não vinha aqui....
Que belo texto!!!
lindo saudosista e emocionado...

[]s L.Sakssida

Lih Florencio disse...

muito lindooo adoreiiiiiiiiii

Anônimo disse...

Minhas condolências...

Pedro Ojeda Escudero disse...

Es un texto muy hermoso y emotivo. Un gran recuerdo de la persona querida, a la que siempre tendrás presente en esta fecha.
Y tienes razón, en este mundo virtual hay poca paciencia para leer textos largos. Algunos sí tenemos paciencia y leemos hasta la última palabra.
Un fuerte abrazo.

Tyago de Paula Ferreira disse...

To aqui no meu aniversário...
Parei um pouco e vi o pc ligado..
Vim aqui e complartilhei a falta de uma mamãe conosco!
Tanta falta da mesma...
Na data que me fez!
Abraços

Suellen Verçosa disse...

Parabéns a sua mãe, por ter criado uma filha que pode sentir saudades e alegrar-se pelos ensinamentos todos!

Que todos os valores que ela carregava pra si se reflita sempre em sua vida e na de seus descendentes, para que ela sempre esteja viva,não só na memória, mas dentro de vocês!

Bjus moça!
Lindíssimo post!

Thaíssa Vasconcelos disse...

Sem muitas palavras...

Sinto muito pela sua mãe...fiquei até um pouco emocionada com seu post.

Ana Paula disse...

Li todo o texto, confesso que me emocionei.
Graças a Deus, nunca perdi ninguém que amava tanto assim. Mas imagino a dor que é.
Linda homenagem a do bilhete, e quanto ao fato de "tocar um cadáver" também não me imagino fazendo isso.

Eu amo meu pai, minha mãe irmã e namorado, se perder algum deles, eu morro junto.
Sou fraca.

Mas você parece forte.
Bem forte.
Um beijo

Euzer Lopes disse...

Responda-me uma coisa: toda vez que você publica um texto novo às segundas, ou no fim da noite do domingo, você está meio para baixo?
Já percebi isto em alguns posts anteriores.


Sobre meu post, do Sérgio Enzo, leia não do jeito que está ali, mas na seqüência horária...
A "mistura" faz uma alusão ao título. Por isso que os leitores não estão entendendo - preguiça mental?

Anônimo disse...

lindo o texto,amei

bjs

Anônimo disse...

lindo o texto,amei

bjs

Euzer Lopes disse...

Então foram coincidências mesmo!
Desculpe-me ser invasivo, ok?

(MSN: elguerrerooriginal@hotmail.com, se quiser)

Lanterna Verde disse...

parabéns pelo texo...emocionante, senti muito carinho nele...

abraços

Lari Bohnenberger disse...

Sentir saudade de alguém muito querido é bom! Ainda mais quando conseguimos lembrá-los com tanto carinho e tanta beleza!
O texto foi lindo, e não o achei longo. Lindo e comovente!

Beijos!

São disse...

Impossível não ler seu preito a sua mãe até final.
Compreendo-a por dentro, porque sinto igual relativamente a meu Pai, que também era uma pessoa excepcional e se foi durante o sono.
Para si, minha querida, o meu fraterno abraço.

Anônimo disse...

Caramba... Eu cai aqui meio que de gaiato, e... Não esperava ser pego por essa avalançhe literária tão deliciosa!

Palvras tão sutis, tãos fortes que chegam a ser contráditórias em seu charme.

Eu um estranho tom de pura empatia, eu só posso oferecer meu sincero sorriso de tristeza contida e meu afago virtual de alegria.

A separação de um ente tão especial como a sua Diva é algo inimáginável! Uma tristeza tão sóbria que me impede de dizer "eu entendo você" Nunca conseguirei imaginar um milésimo dessa sua saudade.

Mas acho que chego perto de entender a alegria deixada por ela dentro de sua alma, uma herança que não pode ser avaliada, algo tão puro e belo que nos da revertérios de admiração!

Adimiro você neste post pela força e alegria ao reavivar a alma desse anjo que lhe foi tão especial! Uma felicidade pura, transmitida com perfeição nesse lamento, nessa canção tão bem posicionada. Estou emocionado como a muito tempo não ficava.

Vim aqui para lhe incentivar a participar da promoção do Livro, mas a Ivi foi mais rapida. Lendo esse texto, até perdi o rumo da prosa de "persuasão" e de insentivo.

Fica aqui os meus sinceros parabéns a você e a sua Diva, pela exelente extenção que ela deixou nessa passagem tão etéril denominada vida.

Abraços.

• duh soŧŧo mayor • disse...

vc tem toda liberdade de expressar esse sentimento aqui na blogosfera...
tem toda nossa compreensão...
e incentiva a quem tem seus pais ainda vivos... a aproveitar com eles... cada momento...

fique bem!

Zé Miguel Gomes disse...

Breathless... Parabéns pelo texto, coragem e sensibilidade. Fez-me pensar.

Fica bem,
Miguel

Anônimo disse...

Oi Nana!
Em primeiro lugar, quero pedir sinceras desculpas pelo sumiço. Tive alguns probleminhas na hospedagem do blog e só há pouco tempo consegui resolver por completo. Agora [graças aos céus!] está tudo bem, e tudo em ordem.
Também venho aqui p'ra convidar-te a ir lá no blog, comemorar comigo as 112.000 visitas, das quais fizeste parte e sou muito grata.
Passa lá pra comer um bolinho comigo, ok? Te espero.

Beijocas.
www.lizziepohlmann.com