Naúfrago

O mar em seu fluxo e refluxo embriagou-se de luar e amanheceu de ressaca.
Aborrecido vomitava tudo que lhe enjoava as entranhas
Eterno itinerário
O vento traçou-lhe as rotas
Maresia
Tapete azul,verde,branco
Não muito distante dali, arremessado pelas ondas nauseantes ,jaz um corpo
Rijo, transparente , delicado
Nada mais possuia da sua antiga vida de rocha
Sua ambição era simplesmente ficar deitada contemplando o céu.
Sódio,quartzo e calor mudaram seu destino
Mão artesã tornou-a fluida,viscosa,maleável.
Com o sopro foi moldada
Atirada à agua, cristalizou
Adquiriu caráter translúcido
Experiências sensoriais jamais imaginadas por um simples composto de sílica
Deram-lhe função
A princípio portava dentro de si nectar dos deuses
Depois, hospedou agua , sumo das nuvens,fonte de vida
Seu corpo vazio traz uma mensagem
Por ironia do destino voltou ao local de origem
Sabia,aguarda com paciência para cumprir sua ultima missão
Enquanto isso madrepérolas generosas expoem ao sol suas intimidades nacaradas.

Eliana Maria Lopes de Andrade